Os que viriam a ser os
discípulos e os primeiros cristãos, bem como os fariseus e o povo judeu, no
começo do ministério público de Jesus, estavam em completa ignorância quanto ao
Seu caráter Divino. Analisando os conceitos que eles tiveram sobre o Senhor,
podemos perceber essa progressão em andamento, elevando-se gradualmente ou, no
caso dos que O rejeitaram, degenerando-Se em negação e ódio. Mas a progressão,
o desenvolvimento da idéia de Deus, para o bem ou para o mal, era constante.
No que se segue,
faremos uma síntese dessa progressão com diversas pessoas ou grupo de pessoas. O
nosso objetivo, com isso, é levar o amigo leitor a refletir quanto a essa mesma
progressão na Igreja cristã de hoje: até que ponto ela chegou no conhecimento
de Deus? será que parou? retrocedeu? É nosso desejo contribuir para que o
Senhor mesmo o ilumine nessas respostas.
Lendo o Novo Testamento e fazendo uma compilação dos diversos conceitos que foram formulados sobre Jesus, podemos classificá-los da seguinte maneira:
Graus do
conhecimento:
|
Como Ele foi
chamado:
|
Ocorrência nos
Evangelhos:
|
|
-
|
Desconhecido
pelo povo
|
-Ignorado
|
-Período anterior
ao Seu ministério público
|
1o.
nível de conhecimento
|
Visto como um homem
comum
|
O
"carpinteiro", pelos da Sua pátria
"filho de Maria" "filho de José" "Jesus de Nazaré, filho de José", por Felipe "homem", pelos judeus que O queriam apedrejar |
Mc. 6:3; Lc. 4:22
Mc 6:3 Lucas 3:23 João 1:45 João 10:33 |
2o.
nível de conhecimento
|
Visto como um Rabi,
Mestre
|
"Rabi",
por André e Natanael, os demais discípulos e por Nicodemos
"Rabi, Rabi", por Judas "Mestre", por escribas e fariseus; doutores da lei, muitos do povo e os discípulos |
João 1:38; 1:49;
3:2, 26; 4:31, 6:25; 9:2, 11:8
Mt. 26:25, 49, Mc 14:45 Mt 8:19; 10:24, 12:38; 17:24; 22:16; 22:24 etc. |
3o. Nível
de conhecimento
|
Visto como o Filho
de Davi, herdeiro real
|
"Filho de
Davi", por vários cegos, pela multidão, pela mulher cananéia, pela
multidão à entrada triunfal em Jerusalém;
|
Mt. 9:27; 13:23;
15:22; 21:9; Mc.10:47, Lc. 18:39
|
4o. Nível
de conhecimento
|
Visto como um
Profeta
|
"Profeta",
pelo povo
"Profeta de Nazaré", pela multidão "Elias", "como um dos profetas", pelo povo "um grande Profeta", pelo povo "um profeta antigo ressuscitado", pelo povo "homem profeta", pelos discípulos de Emaús "O Profeta", pelos que ouviram a voz dos céus "profeta", pelo cego curado e pela samaritana "Jeremias e João", pelo povo |
Mt 14:5; 21:46; Jo.
6:14
Mt. 21:11 Mc. 6:15 Lc 7:16 Lc. 9:8 Lc 24:19 Jo. 7:40 Jo. 9:17; 4:19 Mt 6:14 |
5o. nível
de conhecimento
|
Visto como o
Messias,
o Cristo e o Salvador |
"Cristo, Filho
do Deus vivo", por Pedro
- pelos anjos - pelos demônios "Cristo de Deus", por Pedro -"Messias" - pela mulher samaritana e outros samaritanos "Cristo, Salvador do mundo", pelos samaritanos |
Mt. 16:16; Mc. 8:29
Lc. 2:11 Lc. 4:41 Lc. 9:20; Jo. 6:69 Jo. 1:41 Jo. 4:29 Jo. 4:42 |
6o. nível
de conhecimento
|
Visto como o Filho
de Deus
|
"Filho de
Deus", pelos demônios e espíritos imundos
- pelos discípulos no barco, pelo centurião romano - pelo anjo Gabriel - por João Batista - por Natanael - por Marta "Filho do Deus vivo", por Pedro |
Mt. 4:3,6; 8:29; Mc.
3:11; Lc. 4:41
Mt. 14:33; 27:54; Mc. 15:39 Lc. 1:35; Jo. 1:34; Jo. 1:49 Jo. 11:27 Mt. 16:16 |
7o. nível
de conhecimento
|
Reconhecido como o
próprio DEUS que veio ao mundo
|
"Senhor meu e
Deus meu", por Tomé
"É o verdadeiro Deus, e a vida eterna", por João "Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade", por Paulo "Deus, único dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo", por Judas |
Jo. 20:28; I Jo.
5:20;
Col. 2:9; Judas 3,4 |
Praticamente não havia
dificuldade alguma em se aceitar que Jesus era Mestre e Rabi. Enquanto era
considerado assim, as disputas eram somente quanto às opiniões que Ele tinha
sobre as diversas questões que Lhe eram apresentadas. A maioria, se não todas
as pessoas, facilmente consideraram-No Mestre e Rabi. Este reconhecimento,
diga-se de passagem, podia envolver o nível anterior, ou seja, que Ele
continuava sendo um homem normal, um carpinteiro de Nazaré e filho de José.
Portanto, os escribas, fariseus e doutores da lei O chamavam de
"Mestre" e "Rabi" porque, possivelmente, tinham como certo
que Jesus não passava de um homem comum (vide João 10:33) e, depois, um
impostor e agitador.
Os problemas e
disputas surgem quando se começa a considerar Jesus como Profeta (nível 4) e,
ainda mais, quando passa a ser visto como o Cristo e Messias (nível 5).
Um mestre,
"rabi" e um profeta poderiam ser meramente humanos, mas o Messias já
teria algo de Divino, mesmo que, como se esperava, o Messias ou Cristo fosse um
homem comum, descendente de Davi (Mateus 22:42, Marcos 12:35 e Lucas 20:41);
assim os escribas ensinavam, pelo que Jesus procurou mostrar que estavam
errados, visto que o Messias não poderia ter um homem (Davi) como Pai (Mateus
22:43-46).
Mas, como
possivelmente os judeus continuaram na expectativa de um Messias terreno, por
isso eles aclamaram Jesus como o "filho de Davi", "que vinha em
nome do Senhor" (Mateus 21:9), um rei terreno que fosse sacudir o domínio
romano para lhes restaurar a antiga glória da nação judaica. O povo, de um modo
geral, seguindo o ensinamento e a concepção dos escribas, chegou somente até
esse nível de concepção sobre o Senhor: um Messias humano, filho de Davi,
herdeiro legítimo do trono. E foi, muito possivelmente, porque o Senhor lhes
frustrou essa expectativa, que eles, cinco dias depois dessa ruidosa aclamação
triunfal, bradaram que Pilatos O crucificasse. Além disso, os judeus tinham
determinado que, se alguém confessasse ser o Cristo, fosse expulso da sinagoga
(João 9:22).
Todos os ataques que
Jesus sofreu dos infernos foram dúvidas quanto a Ele ser o Filho de Deus. Para
aceitá-lo como tal, era necessário reconhecer Sua concepção Divina, e que Ele
não era, de modo algum, o filho de José, mas de Deus, ao Qual deveriam, por
conseguinte, se sujeitar.
Desde as primeiras
tentações relatadas, no deserto, até à última, já na cruz, Ele foi rudemente
agredido por causa de Seu caráter Divino:
"E, chegando-se a
Ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se
tornem em pães". (Mateus 4:3
"E disse-lhe: Se
tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo"; (Mateus 4:6
"E os que
passavam blasfemavam dele, meneando as cabeças, dizendo..."Se és Filho de
Deus, desce da cruz". (Mateus 27:39, 40
Os demônios que Ele
expulsou confessavam desde o início que Ele era o Filho de Deus (Mateus 8:29,
Marcos 3:11; 5:7; João 6:69) e o Cristo, mas isso faziam não porque quisessem
exaltar a Divindade do Senhor. Ao contrário, os demônios percebiam que o
processo de aceitação da Divindade de Jesus pelos fiéis devia ser gradual, à
medida do amadurecimento dessa fé e em conformidade com as conclusões a que
cada um chegasse, ouvindo-Lhe as palavras, vendo os Seus milagres e, sobretudo,
rejeitando a doutrina dos fariseus. Diante disso, os demônios e espíritos
imundos quiseram atropelar esse processo, precipitando a exposição de uma
verdade para a qual o povo ainda não estava preparado. Realmente, os espíritos
imundos pretendia lançar o Senhor contra os fariseus e o próprio povo,
escandalizando-os por meio de uma verdade dita fora de hora. Os demônios sabiam
em que ponto haveria a maior dissensão quanto ao caráter de Jesus, e queriam o
quanto antes antecipar os acontecimentos e impedir a obra Por isso Jesus
ordenava sempre que eles se calassem, quando os expulsava.
A despeito de toda
adversidade, alguns fiéis seguidores prosseguiram em seu conhecimento de Jesus
e foram além de O reconheceram como Profeta, Messias e Cristo, Salvador do
mundo. Reconheceram-No como Filho de Deus. Destacam-se, dentre esses, a mulher
samaritana e os seus concidadãos que, talvez por não estarem sob a influência e
a ameaça dos fariseus judaicos, puderam, em pouquíssimo tempo, ter seus olhos
abertos para essa verdade, saindo da ignorância até a aceitação integral de que
Ele era o Cristo, Salvador do mundo.
"Disse-lhe a
mulher: Senhor, vejo que és profeta. (..) Eu sei que o Messias (que se chama o
Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu
que falo contigo. (...) Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e
disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho
feito. Porventura não é este o Cristo? E muitos mais creram nEle, por causa da
Sua palavra. E diziam à mulher: Já não é pelo teu dito que nós cremos; porque
nós mesmos o temos ouvido, e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o
Salvador do mundo (João 4: 19-42, p).
Além dos discípulos e
das mulheres que O seguiram, outros, que também chegaram à concepção de que
Jesus era filho de Deus foram o centurião romano e os que com ele vigiavam a
crucificação, talvez porque, como os samaritanos, não estivessem sob a
influência das idéias preconcebidas da doutrina rançosa dos fariseus:
"E o centurião e
os que com ele guardavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam
sucedido, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era Filho de
Deus" (Mateus 27:54, Marcos 15:39).
Também foi assim com
os discípulos, o que se pode ver especialmente por Felipe e Natanael. No
começo, tiveram Jesus como Rabi e Profeta e, mais tarde, Cristo e Filho de Deus
(Mateus 14:33, João 1:49, Mateus 16:16).
Nota-se que, em todos
as falas registradas nos Evangelhos, eles chamaram Jesus de "Rabi" e
"Mestre" mais no começo de Seu ministério e, à certa altura,
provavelmente em meados desse período, praticamente deixaram de chamá-Lo assim.
Judas, no entanto, sempre o chamou de Rabi até o fim, talvez porque realmente
duvidasse do caráter Divino de Jesus e, por causa disso, não hesitou em
entregá-Lo aos sacerdotes (vide Mt 26:25, 49; Mc. 14:45).
Mas os discípulos não
pararam, porém, ali. Havia a promessa de que, quando viesse o Consolador, este
os guiaria a toda verdade, falando-lhes abertamente a respeito de Deus. (João
16:13, 25) Isto se cumpriu, para eles, logo após a ressurreição de Jesus, pois
naqueles dias alcançaram finalmente à concepção sublime de que Jesus, o
"Homem profeta, poderoso em obras" que andara entre eles, era o
PRÓPRIO DEUS!
O primeiro que
declarou isso foi Tomé. Quando ressurgiu, na tarde daquele domingo, Jesus
estava agora no Humano glorificado. Ele tinha ido para o Pai, isto é, Seu
Humano agora estava unido plenamente à Alma eterna, o Humano tomado no mundo
estava unido a JEHOVAH, a vida mesma. Jesus era "Immanuel", que quer
dizer: "Deus conosco". Ele assim Se apresentou aos discípulos segunda
vez, no Corpo glorificado.
"Depois disse a
Tomé: Põe aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no
meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. E Tomé respondeu, e disse-lhe:
Senhor meu, e Deus meu!" (João 20:27,28).
É muito importante
notar que Jesus não repreendeu a Tomé por tê-Lo chamado de Deus! Ele o faria
prontamente, se assim fosse o caso. Jesus não aceitaria ser chamado Deus e
igual ao Pai se Ele mesmo não fosse Deus e o Pai. Assim, ao invés de corrigir
Tomé, Ele o censurou por ter sido tardio em compreender essa verdade
irrefutável.
João, o discípulo que na última ceia se reclinara sobre o Seu seio
Divino, no seu Evangelho registrou também essa verdade dizendo que Deus, que
era a Palavra, tinha-Se feito Carne e habitara no meio deles! Mais tarde, na
sua
Epístola, reafirmou
que Jesus Cristo era o verdadeiro Deus e a vida eterna (I João 5:20).
Judas, em sua breve
epístola, fez a seguinte referência:
"Deus, único
dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo" (3,4)
E Paulo (Colossenses,
2:8,9): resumiu essa verdade dizendo que Jesus Cristo "habita
corporalmente toda a plenitude da Divindade".
Após a Sua
ressurreição e completa glorificação, a completa união das essências Humana e
Divina, o Senhor falou aos discípulos como Um só Deus, o todo poderoso:
"E, chegando-se
Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra".
(Mateus 28:18).
Alguém, pensando pela
idéia cristã de hoje, poderia ser levado a interpretar essa afirmação dizendo
que Deus, o Pai, transferiu à pessoa do Filho todo o poder. Porém, se assim
fosse, a outra suposta pessoa Divina ficaria reduzida a nada. O que Jesus
dizia, aqui, era simplesmente que, naquele Humano, de que Ele Se revestira no
mundo, estava o todo o poder de salvar, porque ali estava a Alma Divina,
habitando aquele Humano como num Templo preparado e purificado.
E após a ascensão do
Senhor aos céus, não havia mais dúvida de que Ele era Deus, visível, revelado,
perfeitamente compreensível. Por isso, quando Jesus lhes ordenou que batizassem
a todos os que cressem em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mateus
28:19), eles saíram batizando... em nome de Jesus (Atos 2:38). Eles não estavam
desobedecendo à sublime ordem. Era somente porque o "Nome" do Pai, do
Filho e do Espírito Santo é "Jesus", pois que Ele mesmo é Pai quanto
à função de nos criar, Filho, quanto ao Humano, que nasceu da Alma, e Espírito
Santo pela operação atual em nossas mentes e corações.
Quando nomes
diferentes são dados a uma mesma pessoa, isto pode trazer alguma confusão a
quem não a conhece, mas a pessoa em questão não deixa de ser ela mesma e muito
menos se torna em duas, por ter sido chamada de outro modo. Temos um exemplo
disso no conhecido versículo de Isaías 9:6, que sintetiza os vários nomes de um
mesmo Deus:
"Porque um menino
nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se
chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade,
Príncipe da Paz" (Isaías 9:6).
Só aqui, sete nomes, sete atributos distintos para um só Deus:
"Menino", "Filho", "Maravilhoso",
"Conselheiro", "Deus Forte", "Pai" e
"Príncipe". O "Menino" é o mesmo "Deus forte",
que é também "Pai" e "Filho", ao mesmo tempo.
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